esculpices

quinta-feira, setembro 27, 2007

Para a História da Civilização

"Tendo perdido as aptidões para coser, pescar e acender o fogo, os indígenas da Tasmânia viviam ainda mais simplesmente do que os aborígenes do continente australiano, dos quais tinham ficado isolados pela subida do nível do mar, há cerca de dez mil anos. Quando os barcos que trouxeram os colonizadores europeus chegaram à Tasmânia, em 1772, a população indígena pareceu não dar pela sua presença. Incapazes de processarem uma percepção para a qual nada os preparara, os indígenas mantiveram os seus modos de vida.
Não dispunham de quaisquer meios de defesa contra os colonizadores. Por volta da 1830, o seu número reduzira-se de cerca de cinco mil para 72. Nos anos anteriores, tinham sido utilizados como mão-de-obra escrava e como objectos sexuais, tendo sido torturados e mutilados. Tinham sido caçados como animais e o governo oferecia recompensas pelas suas peles. Quando os homens eram mortos, as mulheres eram postas a vaguear com as cabeças dos maridos penduradas ao pescoço. Os homens que não eram abatidos, normalmente eram castrados. As crianças eram mortas à paulada. Quando o último indígena do sexo masculino, William Lanner, morreu em 1869, a sua cova foi aberta por um membro da Royal Society da Tasmânia, o Doutor George Stokell, que fez da sua pele uma bolsa para tabaco. Quando a última mulher indígena «puro sangue» morreu, alguns anos depois, o genocídio podia dizer-se completo.
O genocídio é tão humano como a arte ou a oração. Isso não se deve ao facto de os seres humanos serem uma espécie que se destaca sobre todas as outras pela sua agressividade. A taxa de mortes violentas entre certos símios excede a que se regista entre os seres humanos - desde que as guerras sejam excluísdas dos cálculos; mas, como E.O. Wilson observa: «Se os babuínos da Guiné dispusessem de armas nucleares, destruíriam o mundo numa semana». O assassínio em massa é um efeito secundário do progresso tecnológico. Do machado de pedra em diante, os seres humanos têm-se servido dos seus diversos instrumentos para se exterminarem una aos outros. OS seres humanos são animais fabricantes de armas com uma insaciável propensão para matar"
(John Gray - Sobre Humanos e Outro Animais)

quarta-feira, setembro 26, 2007

Platão e o Alfabeto


"O legado de Platão ao pensamento europeu foi uma tríade de maiúsculas - o Bom, o Belo e o Verdadeiro. Travaram-se batalhas e instauraram-se tiranias, foram devastadas culturas e exterminados povos ao serviço destas abstrações. A Europa deve boa parte da sua história assassina aos erros de pensamento engendrados pelo alfabeto."
(John Gray-Sobre Humanos e Outros Animais)

terça-feira, outubro 31, 2006

A propósito de valores... na Gulbenkian.

"Mas entre nós outros que, das nossas diferentes perspectivas culturais ou mesmo religiosas, igualmente rejeitamos cruzadas e jihads,é um diálogo que não só deveria ser possível mas que é urgente que seja. Mesmo assim, nunca será um diálogo fácil. Era bem mais fácil quando, por exemplo, Proudhon fazia a distinção entre a propriedade e a posse ou Karl Marx entre o capital e o trabalho. Ou quando a Constituição americana consagrou o direito à felicidade na terra e o que estava em discussão não era esse valor universalmente self-evident mas como melhor o implementar. As esquerdas diziam que assim, as direitas diziam que assado mas – a despeito de todos os horrores e de todos os conflitos gerados pelas suas opostas posições ideológicas - esquerdas e direitas, ao longo dos anos, foram adoptando ideias e soluções transpostas de umas para as outras. Assim, o capitalismo moderno – nem que fosse só para maior eficiência - incorporou muito do que o socialismo havia desejado ser e o socialismo moderno tornou-se numa versão humanizada do capitalismo, com as forças do mercado ao seu serviço. Mas isto só aconteceu, é claro, nas economias desenvolvidas das democracias ocidentais. Que são também aquelas que, e não sem razão, desejariam que os seus valores laboriosamente conquistados se expandissem para o resto do mundo onde as condições são dramaticamente piores, com extremos de degradação e de miséria impensáveis mesmo para os arautos do socialismo nas sociedades capitalistas do Século XIX.
Mas os termos em que formulam essa justa e desejável universalização de direitos humanos – os valores do Ocidente – encerram novas complexidades que ainda estão longe de ter sido resolvidas. Hoje em dia já não se fala de esquerdas e de direitas, ou só se fala com aspas na voz. Mas fala-se de universalismo e de relativismo. Que são conceitos que não correspondem necessariamente às ideologias que haviam sido da esquerda ou da direita até porque todos agora estão - estamos - de acordo que seria boa ideia, por exemplo, haver democracia em todo o mundo. Pois seria, mas como? Impondo-a para impedir continuados genocídios, fome, epidemias causadas por descuro, corrupção instituída como poder? Não, certamente que não, dizem os relativistas: cada sociedade tem a sua dinâmica própria, há que respeitar as diferenças, as especificidades culturais. E, na verdade, ninguém de boa vontade pode discordar de que assim deve ser. Mas respeitar, como valores legítimos, as diferenças e as especificidades culturais que se manifestam em genocídios, fome, epidemias, e também na excisão dos clítoris das adolescentes, em mãos judicialmente decepadas, em mulheres adúlteras apedrejadas é, para dizer o mínimo, eticamente complicado, quanto mais não seja pela paternalística presunção implícita de que, coitados, não sabem o que fazem. E nas sociedades que se arrogam o direito moral (pior, o dever neo-colonialista) de impor aos outros os seus justos valores democráticos pela força das armas não há também corrupção? E tortura institucionalizada? E não há escravatura sexual que melhor não é do que a castração feminina?" (

Hallowen

A Beleza

segunda-feira, outubro 30, 2006

Outono

Bang

Na viagem superior à do som as ondas de densidade emitidas acumulam-se em cone atrás do veículo, ouve-se um bang supersónico e na aceleração para ultrapassar a barreira do som, pode formar uma nuvem original. A humidade do ar condensa-se e forma gotículas de água. Meteoros e naves espaciais produzem frequentemente bangs supersónicos antes de ultrapassarem a velocidade do som na atmosfera terrestre. Aqui.

Solaris 1

Grande plano de uma sombra solar, uma depressão que é ligeiramente mais fria que o resto do Sol. É o campo magnético do Sol que cria esta região impedindo a matéria quente de aí entrar. Estas depressões podem ser maiores que a Terra e só vivem alguns dias. Vê-se claramente que a superfície solar é um mar borbulhante de diferentes células de gás quente que se chamam grânulos – medem cerca de 1000 quilómetros de diâmetro e duram uma dezena de minutos. Depois explodem e apagam-se. Aqui.

Solaris

Partículas provenientes do sol. Uma fraca mancha na coroa solar adquire vigor libertando uma enorme e explosiva ejecção de matéria coronal. Ao mesmo tempo começaram a ser detectadas ondas de rádio emitidas por electrões desta tempestade magnética. O gás libertado por esta explosão teve uma influência de curta duração no nosso planeta mas suficiente, provavelmente, para provocar flutuantes auroras boreais. Aqui.

Aurora

Uma aurora boreal vista da estação espacial internacional que as atravessa como os aviões atravessam as nuvens. Os fluxos de electrões e protões são demasiados ligeiros para constituírem perigo. Aqui.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Os Anjos do Inferno

HIGHWAY TO HELL

O Olhar

O Medo e a Cidade

"É bem sabido que todas as vedações têm dois lados. Dividem um espaço uniforme em exterior e interior. Mas os que se encontram de um dos lados da vedação vêem o exterior onde os que estão de outro lado vêem o interior. Os residentes dos condomínios isolam-se, por meio da sua vedação, do caos e da dureza que tornam a vida urbana desconcertante, desagradável e vagamente ameaçadora, e ficam reclusos num oásis de clama e segurança. Ao mesmo tempo, contudo, separam os outros dos lugares decentes e seguros, cujos valores estão dispostos a defender encarniçadamente, e abandonam-nos às mesmas ruas sórdidas e miseráveis de que fugiram sem olhar a despesas. A vedação separa o ghetto voluntário dos ricos e dos poderosos dos inumeráveis ghettos forçados em eu os deserdados vivem. Para os que fazem parte do ghetto voluntário, os restantes ghettos são lugares onde nunca porão os pés. Para os habitantes dos ghettos involuntários, em contrapartida, o território a que estão confinados (ao verem-se excluídos de todos os outros lugares) é um espaço do qual se encontram proibidos de sair."

“Como afirma Nan Ellin, «sem margem para dúvidas, o medo [na construção e reconstrução das cidades] agudizou-se, como sugere o aumento do número de casas e veículos fechados à chave, a abundância de alarmes, a grande aceitação de que gozam de zonas de habitação cercadas e seguras entre pessoas de todas a cidades e salários, bem como a vigilância cada vez maior dos lugares públicos, além das intermináveis notícias alarmistas difundidas pelos meios de comunicação.»”.

“A formação de um conceito coerente da sociedade traz consigo o desejo inato de não querer participar nela. O sentimento que nos une aos outros sem compartilharmos as suas experiências surge porque nos assusta a participação na sociedade, assustam-nos os perigos e ameaças que essa participação implica, bem como a dor que isso nos pode causar.”

O Medo e a Cidade

“O medo do desconhecido, tangível na atmosfera, ainda quando só subliminarmente, reclama uma válvula de escape convincente. A ansiedade acumulada tende a descarregar-se sobre determinados estrangeiros, escolhidos para encarnarem o estranho, o inquietante, a nota impenetrável de outros costumes, a imprecisão de certos perigos e ameaças. Expulsando das suas casas e lojas certo tipo de estrangeiros, consegue-se exorcizar por algum tempo o fantasma aterrador da incerteza e esconjura-se, assim, o monstro medonho da insegurança.”

O Medo e a Cidade

“A irreversibilidade da exclusão é uma consequência directa, ainda que imprevista, da decomposição do Estado social, quer dizer, de um conjunto de instituições consolidadas, mas também da decomposição – se quisermos falar em termos mais eloquentes – de um ideal ou de uma experiência. A fraqueza, a deterioração e o desmoronamento desse mesmo Estado pressagiam, bem vistas as coisas, o desaparecimento das oportunidades de resgate e a supressão do direito a apelar da sentença, do mesmo modo que a dissipação gradual da esperança e o progressivo abandono da vontade de resistir. Em lugar de ser a condição de desempregado (termo que sugere um desvio da norma, um contratempo passageiro que pode e deve ser solucionado), estar sem trabalho assemelha-se cada vez mais a estar a mais, a ser-se rejeitado por supérfluo, por inútil, pois ninguém quererá dar emprego a quem esteja nessas condições, que predestinam quem as sofre a permanecer economicamente inactivo. Estar sem trabalho implica que o indivíduo deixou de ser imprescindível, até mesmo que tenha deixado de ser para sempre necessário, vendo-se desterrado para o depósito do lixo do progresso económico, progresso que, em última análise, se reduz a realizar o mesmo trabalho, mas com menos pessoal e por meio de um custo de mão-de-obra inferior.
O desempregado de hoje, sobretudo aquele que o é por um período prolongado, está a um passo de cair no buraco negro dos desclassificados: homens e mulheres que não pertencem a qualquer grupo social legítimo, indivíduos situados à margem de qualquer classe, aos quais não corresponde nenhuma das funções aprovadas, úteis e indispensáveis desempenhadas pelos cidadãos «normais», pessoas que com nada contribuem para a sociedade, excepto com o que é prescindível e não interessa. Deste modo, pouca distância separa os supérfluos dos delinquentes: os desclassificados e os delinquentes não são mais do que dois subconjuntos do total dos elementos anti-sociais.”

O Medo e a Cidade

“O nosso sofrimento – bem como o medo de sofrer, ou a dor irritante e insuportável que resulta desse medo – tem por origem «a supremacia da Natureza, a caducidade do nosso próprio corpo e a insuficiência dos nossos métodos de regulação das relações humanas no interior da família, do Estado e da sociedade.»”

“A sociedade de hoje, ao suprimir as comunidades e as corporações estritamente unidas que outrora delimitavam as normas e velavam pelo seu cumprimento, e ao substituí-las pelo dever imposto a cada um de se ocupar de si próprio e dos seus próprios assuntos, passou a assentar no terreno movediço da incerteza: numa sociedade deste tipo, é inevitável que a insegurança e o medo de perigos imprecisos acabem por se tornar males endémicos.”

quarta-feira, outubro 25, 2006

O Senhor do Anéis

Zygmunt Bauman

terça-feira, outubro 24, 2006

O Medo e a Cidade


Zygmunt Bauman é um velhinho polaco, sociólogo, que vive em Inglaterra e dá aulas na Universidade de Leeds. A Relógio d’Água publicou este ano um livrinho seu, pequenino, que se lê num instante, – Confiança e Medo na Cidade – em que analisa as razões do medo que assolam as sociedades urbanas. Na sua perspectiva, assistimos ao aumento gradual do receio (medo) de perda dos nossos bens e, ao querermos protegê-los constantemente, caímos num círculo vicioso que implica cada vez mais medo e mais insegurança.Tais medos “nasceram com a irrupção simultânea da liberalização e do individualismo, numa altura em que já se haviam tornado frouxos ou quebrado os laços de parentesco e de vizinhança que uniam com firmeza as comunidades e corporações”. A des-solidarização e a competição desenfreada – tudo é permitido - desculpam qualquer um, sobretudo aquele que sabe que cada vez pode contar menos com o auxílio da sociedade em que vive. A grande ameaça personaliza-se e o “…fantasma mais aterrador é representado pelo medo de ficar para trás.”Este ficar para trás é, nada mais, nada menos, a completa eliminação do mercado de trabalho e de qualquer função na sociedade. Cada vez se houve mais as pessoas utilizarem o discurso – importado dos estados unidos – de se referirem às outras, não como supérfluas, mas como desclassificadas. O ser humano perdeu o seu lugar no tradicional sistema de classes, foi brutalmente atirado para a margem, é situado ao lado dos criminosos e delinquentes e a sua única utilidade é recordar, aos que mantêm o seu trabalho e ainda desempenham uma função, o que lhes pode acontecer.Assistimos, hoje, ao aumento significativo de uma quantidade enorme de gente que perdeu a sua principal fonte de sustento e já não lhe é permitido a segurança que os seus pais e avós viviam. Um fosso intransponível começa a edificar-se entre os que já não vivem a esperança e os que defendem “selvaticamente” a preservação do seu estatuto e do seu trabalho. É precisamente nestes últimos que o medo adquire características demoníacas e aumenta gradualmente na razão directa da necessidade de protecção. Quanto mais protecção, mais medo.Estamos presos numa dualidade: por um lado, aquilo a que Bauman chama mixofilia – desejo de mistura com as diferenças; por outro, a mixofobia – medo e receio dos perigos que os desclassificados representam, o que leva à negação de qualquer espécie de contacto com estranhos e a uma reclusão voluntária a que já só falta a ponte levadiça para eliminar a ameaça de entrada dos bárbaros.

Paisagens Neuronais



Ninguém tem dúvidas que as imagens visuais são decididas pelas estruturas neuronais do nosso cérebro. Como é que o cérebro decide se um rosto é atractivo e outro não?
Uma imagem – estímulo tem maior poder atracção se se encontrar na média-padrão a que o nosso cérebro está habituado, ou seja, a elaboração de juízos sobre a atracção-beleza de uma pessoa depende da facilidade com que a mente processa a imagem, ou seja, do grau de atracção já devidamente adquirido (formatado) pela mente. Tais média-padrão serão protótipos (arquétipos) que facilitam o tratamento neuronal efectuado pelo cérebro.
Um estudo publicado pela revista Psichological Science intitulado “Prototypes are attractive because they are easy on the mind”, da autoria do Prof. Piotr Winkielman da Universidade de Califórnia – San Diego afirma que um rosto situado na norma-padrão e identificável com um determinado protótipo é considerado mais sedutor e atraente porque pode simbolizar uma excelente saúde e, em consequência, uma boa condição física para a procriação. Sabendo que o cérebro processa com mais facilidade as denominadas imagens médias-padrão - a facilidade é medida pela velocidade com que o observador reconhece a imagem observada – os cientistas decidiram investigar se a ratio de preferência por imagens médias não estaria, exactamente, nessa facilidade.
Trabalhando com padrões geométricos e gráficos de pontos, Winkielman e os seus colegas treinaram participantes para reconhecer determinados padrões iniciais e, por um critério de apelo e beleza, pediram que se pronunciassem sobre vários graus de variação em redor desses padrões. Conforme previsto, escrevem os autores do trabalho, os participantes categorizaram os padrões mais rapidamente, considerando-os mais atraentes quando se encontravam mais próximos dos respectivos protótipos.
O mais simples juízo estético parece depender do grau de familiaridade com o que se vê, influenciando a nossa capacidade de identificar um determinado padrão.
A sociobiologia e a neuroantropologia vão adquirindo espaço de afirmação na evolução científica e no conceito de interdisciplinaridade. (Fonte)

Conflitos Estelares

Luta titânica entre duas galáxias (Antenas). Na zona de sombra colunas de poeiras denunciam a presença massiça de nuvens moleculares comprimidas pela colisão galáctica que provocam o nascimento acelerado de milhões de estrelas.

Ninhos cósmicos

Glóbulos gasosos em evaporação. Densas regiões constituídas principalmente por hidrogénio molecular fragmentam-se, desmoronam-se gravitacionalmente e... formam estrelas.